FENAMETRO e SINDMETRO-PE repudiam decisão de Lula de conceder Metrô do Recife: “Um retrocesso inaceitável”

A Federação Nacional dos Metroferroviários (FENAMETRO) e o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SINDMETRO-PE) vêm a público manifestar sua total contrariedade à decisão anunciada pelo presidente Lula de conceder à iniciativa privada o Metrô do Recife, hoje operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Segundo informações da imprensa, o anúncio oficial deverá ocorrer em setembro, em parceria com a governadora Raquel Lyra (PSD), mesmo com forte oposição da base social e sindical do presidente no estado.

Para Luiz Soares, presidente da FENAMETRO e do SINDMETRO-PE, a decisão do governo federal vai na contramão da história:

"Lula precisa entender que está vindo na contramão do mundo. Enquanto Reino Unido, México e outros países da Europa vêm reestatizando suas ferrovias, e a China impulsiona sua ferrovia estatal como motor do desenvolvimento, o Brasil insiste em aplicar a cartilha neoliberal dos anos 80."

Um governo eleito pela base popular não pode trair seus compromissos históricos
O presidente Luiz Soares relembrou o papel decisivo de Pernambuco e dos metroviários na eleição de Lula:

“Pernambuco, foi um dos estados que deu uma das maiores votações no Nordeste. Fomos nós, trabalhadores e trabalhadoras, que enfrentamos o bolsonarismo nas ruas, que fizemos campanha com força. Agora ele nega tudo isso, tudo que foi construído com luta. Isso é um absurdo.”

Segundo ele, a proposta de privatização representa um ataque direto à CBTU e à ideia de transporte público como direito social garantido na Constituição Federal:

“O governo precisa avançar, mas avançar é fortalecer o público, reestatizar, e não privatizar. Transporte não é mercadoria. É direito do povo. E nós vamos dizer a ele, com todas as letras: essa decisão está equivocada. Muito equivocada.”
"Se é pra ter luta, vai ter luta. Vai ter resistência até vencer", conclui Luiz Soares.

A retirada do metrô do PND é uma reivindicação legítima
Desde 2022, a FENAMETRO e o SINDMETRO-PE vêm defendendo a retirada da CBTU do Programa Nacional de Desestatização (PND). Essa demanda foi levada ao governo Lula com respaldo em argumentos técnicos, sociais e econômicos:

A privatização não garante qualidade: experiências anteriores mostram que o setor privado prioriza rentabilidade, não o atendimento universal.

O subsídio público continuará existindo: mesmo com a concessão, o governo federal vai aportar cerca de R$ 3 bilhões — ou seja, o Estado continuará financiando, mas abrirá mão da gestão pública.

Os prejuízos da CBTU decorrem do subfinanciamento histórico: o Metrô do Recife opera há anos com tarifas congeladas e investimentos insuficientes. Privatizar não é resolver o problema, é transferi-lo.

A população não foi ouvida: não houve processo transparente, nem escuta pública sobre o futuro do transporte na Região Metropolitana.

Unidades públicas devem ser fortalecidas, não entregues
O anúncio da concessão previsto para setembro, em conjunto com a governadora Raquel Lyra (PSD), ignora o debate democrático com a sociedade civil, os trabalhadores e especialistas em mobilidade urbana. O governo precisa escolher de que lado está: ao lado da soberania nacional e do povo, ou do capital privado que vê no transporte apenas um negócio lucrativo.

Resposta da FENAMETRO e do SINDMETRO-PE sobre os empregos
O Governo afirma ter garantido os empregos dos trabalhadores da CBTU por meio de um Acordo Coletivo Especial (ACE). Mas essa afirmação não corresponde à realidade.
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1. O ACE tem alguns limites *
O Acordo não garante a movimentação dos trabalhadores para outros órgãos, com a garantia dos empregos se a CBTU for extinta. Há cláusulas frágeis e brechas jurídicas. Faltam garantias concretas para a realocação dos trabalhadores em outros órgãos públicos federais.

2. Não há diálogo real com os trabalhadores
O governo se recusa a negociar de forma transparente. A ministra do MGI não nos recebe. O processo está travado, sem disposição para rever ou melhorar o ACE. Sem diálogo, não há confiança.

3. Não se pode privatizar sem resolver a situação dos trabalhadores
É inaceitável discutir a concessão do metrô sem antes garantir o destino de centenas de trabalhadoras e trabalhadores. O governo não apresentou um plano sério de transição. A promessa de “preservar empregos” está no discurso, não na prática.

4. O povo não foi ouvido
A modelagem da concessão foi construída sem debate público. A população de Pernambuco não foi consultada. O metrô precisa de mais qualidade, mais investimentos e tarifa social ou zero — não de um modelo de negócios que prioriza lucro de alguns, ou seja, daqueles que controla o capital.

Queremos compromisso com o povo e com os trabalhadores
FENAMETRO e SINDMETRO-PE exigem:

- Mesa de negociação imediata com o MGI;

Garantia real de realocação dos trabalhadores;

Retirada da CBTU do Programa Nacional de Desestatização;

Abertura de diálogo com a sociedade sobre o futuro do transporte

Sem essas condições, não há concessão aceitável

Nenhuma concessão sem resistência
A FENAMETRO e o SINDMETRO-PE reafirmam seu compromisso com a defesa de um transporte público, estatal, acessível e de qualidade. Convocamos a sociedade, os movimentos sociais e demais sindicatos a se unirem contra essa iniciativa. O metrô é do povo. E o povo não vende.

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